logotipo_fegest
Apoiadores
Sobre
Diretoria
Prevenção
Perguntas
Novidades
Guia do Estomizado
Links
Contato

 

Cuidados de Enfermagem para Estomias Intestinais (Parte 2)

Cuidados de estomia e qualidade de vida

Não há um tratamento rotineiro para adaptação à estomia após a cirurgia de abertura do estoma. O ensino do proceimento deve começar no pré-operatório e continuar no pós-operatório (2).

Cada etapa, desde as indicações do preparo até os cuidados com a estomia cirúrgica, deve ser cuidadosamente planejada em cooperação com cada paciente.

A principal tarefa antes da cirurgia é o aconselhamento profissional e o treinamento para o potencial usuário do estoma e para sua família.

Após a cirurgia, a grande maioria dos pacientes recebe um sistema de estomia de duas peças, com anel de base e uma bolsa. Idealmente, os sistemas de duas peças devem ser trocados a cada 2-3 dias, enquanto os sistemas de uma peça devem ser trocados diariamente.

Os pacientes devem receber treinamento de profissional especializado em cuidados de estomias o mais rápido possível para garantir que possam cuidar de seu estoma com segurança após a alta hospitalar (1). Enquanto o paciente permanecer hospitalizado, haverá tempo para aprender e praticar os cuidados da estomia. Portanto, os pacientes e seus familiares podem melhorar o autocuidado por meio de tentativa e erro (2).

Uma estomia muda drasticamente a vida de um paciente. As consequências físicas, psicológicas e sociais na qualidade de vida têm sido amplamente descritas (1).

O desafio na prestação de cuidados envolve detectar sinais de altos níveis de deficiência física ou baixos níveis de recursos adaptativos que possam levar à incapacidade e restrição das atividades normais.

Fatores pessoais e ambientais influenciam no autocuidado do estomizado.

Os fatores físicos incluem a forma e a localização da estomia, ileostomia ou colostomia, cirurgias abdominais adicionais, alto índice de massa corporal (IMC) ou mudança repentina no IMC após a cirurgia. Condições de saúde não relacionadas a estomias ou hábitos corporais, como a saúde física atual do indivíduo ou repercussões de comorbidade podem impactar no autocuidado do estomizado. Fatores pessoais e ambientais podem influenciar o autocuidado com estomia, incluindo recursos financeiros, apoio social e acesso a serviços e equipamentos adequados para estomia (3).

Os cuidados com a estomia abrangem amplo espectro de tarefas, bem como o manejo de vários tipos de estomia. Junto com o cuidado direto com o estoma, os aspectos psicológicos e nutricionais devem ser discutidos (1).

Ter um parceiro que possa ajudar é benéfico. Os cuidadores podem auxiliar os gestores sanitários a organizar o sistema de saúde e os recursos ambientais que facilitem o gerenciamento ideal da estomia. Às vezes envolvido no pedido de suprimentos, coordenação de cuidados médicos e outras tarefas semelhantes (3).

Apesar de tudo isso, oferecer cuidados a estomia em pacientes que receberam alta pode ser um desafio (1).

Não se sabe precisamente como os estomizados lidam com os problemas relacionados à estomia e também como esses problemas podem afetar sua qualidade de vida.

Grant et al. enfatiza que em diversos estudos revela-se que a presença de estoma intestinal é um fato importante na qualidade de vida dos pacientes acometidos. Ao mesmo tempo, a qualidade de vida é difícil de medir.

Wilson e Cleary referem que qualidade de vida é “a avaliação subjetiva da satisfação com a saúde e o bem-estar geral”. É um resultado importante que inclui funcionamento funcional, psicológico e social. Os instrumentos para avaliá-la não são genéricos e não são sensíveis o suficiente para detectar o impacto da estomia na qualidade de vida do estomizado.

As seguintes perguntas são úteis para avaliá-lo:

  • Qual é a qualidade de vida percebida de estomizados de longa duração com colostomia?
  • Quais problemas relacionados à estomia afetam a percepção da qualidade de vida dos estomizados (4)?

Educação Sanitária

Pós-operatório imediato

O pós-operatório imediato abrange as primeiras 72 horas após a intervenção.

Fisiologia das colostomias e ileostomias: início da peristaltismo para gases e fezes.

Antes da restauração do trânsito intestinal será necessário:

  • Avaliação global do paciente;
  • Manutenção de sinais vitais e identificação de sinais de risco;
  • Permeabilidade e bom funcionamento das sondas, cateteres, linhas centrais e periféricas;
  • Manutenção do equilíbrio eletrolítico;
  • Vigilância e visualização de curativos cirúrgicos e cuidados com a cicatriz;
  • Observação do estoma;
  • Colocação do dispositivo apropriado;
  • Avaliação de riscos e complicações;
  • Recuperação do trânsito intestinal.

Durante a restauração do trânsito intestinal:

  • Avaliação da saída de gases e do início das primeiras fezes;
  • Programa de educação em saúde.

Em algumas estomias, é necessário conhecer perfeitamente a técnica de irrigação, que consiste na lavagem intestinal, ou seja, a introdução de água morna pelo estoma até o cólon distal. A água é introduzida no intestino produzindo uma distensão do cólon, que causa contrações e provoca a expulsão do conteúdo intestinal por estímulo mecânico em resposta à introdução de água.

Cuidados necessários

Alguns dias após a intervenção cirúrgica, deve-se considerar a possibilidade de iniciar a educação para os cuidados com o estomizado.

É necessário reforçar as informações que foram oferecidas ao paciente no pré-operatório. A educação é direcionada ao paciente e sua família, se ele assim solicitar. Tem que ser o mais clara possível, para que o paciente consiga a maior autonomia possível no seu cuidado. O objetivo é favorecer a aceitação de seu estoma e promover autonomia no meio familiar e social.

Deve-se primeiro enfrentar a visualização do estoma, o primeiro contato visual com o estoma é importante para realizar os cuidados.

Aprendizagem progressiva da higiene do estoma

  • Remoção do dispositivo: explique ao paciente que deve remover o dispositivo de cima para baixo, segurando a pele com a outra mão para evitar esticá-la.

Antes de retirar a bolsa, esta deve ser esvaziada: no vaso sanitário (fezes líquidas) ou diretamente na mesma bolsa (fezes compactas). Eles serão descartados diretamente no lixo ensacado para evitar vazamentos. Recomenda-se esvaziar a bolsa saco várias vezes durante o dia quando estiver um terço cheia.

  • Limpeza do estoma e região periestomal: ensine como fazer a higiene do estoma e da pele periestomal a cada troca de aparelho. Use uma esponja macia, sabão neutro e água, limpe a pele com movimentos circulares de dentro para fora e seque suavemente a área com lenços sem esfregar, mas certificando-se de que esteja completamente seca, observando seu estado.
  • Medição do diâmetro do estoma: antes de aplicar o próximo dispositivo, é necessário saber exatamente o tamanho do estoma para poder ajustar o adesivo o máximo possível e assim evitar irritações na pele.

Escolha e colocação do novo dispositivo: mostre como colocar o novo dispositivo. Existem dois tipos: de uma e duas peças.

Dispositivo de peça única: mais usado em colostomias se a pele periestomal estiver em boas condições.

Dispositivo de duas peças: nas ileostomias é comum usar dispositivo de duas peças; da mesma forma, o disco deve estar perfeitamente ajustado à pele.

O paciente será informado que, em caso de vazamentos ou irritações, existem acessórios e produtos que podem promover o autocuidado, como cintos, cremes protetores, discos ou adesivos potencializadores.

Alimentação

A pessoa estomizada não precisa seguir uma dieta restrita se não a seguia anteriormente. O paciente seguirá a dieta prescrita pelo cirurgião no pós-operatório, mas posteriormente poderá incorporar novos alimentos de acordo com a tolerância.

É preciso

  • Comer em horários regulares.
  • Mastigar bem a comida.
  • Seguir uma dieta balanceada.
  • Manter ingestão adequada de água (1,5 a 2 l), especialmente para pessoas com ileostomia e mais ainda nos períodos de verão.
  • Introduzir gradualmente novos alimentos.
  • Incorporar derivados do leite com cuidado e sempre procurando que as fezes mantenham-se o mais compactas possível. Em caso de diarreia, serão eliminados da dieta alimentar.
  • Para pessoas com ileostomia, é recomendado que sigam uma dieta adstringente.
  • Existem alimentos que causam flatulência, como cebola, alho, aspargos, couves e refrigerantes. É necessário que os estomizados os conheçam para saber quando podem ingeri-los e quando não podem.
  • Existem alimentos que ajudam a diminuir o cheiro de fezes, como iogurte, manteiga, salsa, que também devem ser levados em consideração.

Atividades laborais

Superado o período de convalescença, é interessante que o paciente retorne a sua atividade laboral na medida em que a sua saúde o permita.

Atividade social, viagens, esporte e lazer

Se a pessoa se sentir recuperada, não precisará limitar as viagens, mas é preciso levar em consideração algumas recomendações básicas e ter sempre o material necessário para o cuidado de sua estomia. Cuidado com a água e evite atividades que comprometam o estoma, como esportes de contato e que aumentem a pressão abdominal.

Alta hospitalar

O preparo do paciente para a alta hospitalar começa a partir do momento da admissão. Fornecer um guia sobre os cuidados com a estomia pode ser muito útil ao estomizado, uma vez que existem dúvidas e medos que deverá enfrentar ao sair do hospital.

Com o acompanhamento pela equipe de enfermagem no centro de acolhimento, em cada consulta o estomizado terá a possibilidade de continuar permanentemente a melhorar no cuidado, auxiliando-o a alcançar total autonomia.

Fazer uma boa avaliação individualmente permitirá que se planeje a alta.

  • Verificar se existem limitações físicas que dificultem o autocuidado.
  • Detectar se há necessidade de continuidade do atendimento.
  • Reconhecer problemas potenciais ou reais para antecipá-los. Identificar redes de apoio antes de o paciente deixar o hospital. Também é necessário verificar se:
  • Realiza corretamente a higiene do estoma e da pele periestomal.
  • Faz a troca de aparelho sem dificuldade.
  • Sabe como detectar e se adaptar a possíveis alterações em sua estomia e movimentos intestinais.
  • Aconselha-se cortar os cabelos ao redor do estoma com tesoura, NUNCA com lâmina, para facilitar a aderência ao dispositivo.
  • Óleos ou hidratantes não devem ser usados ​​na área do estoma.
  • Explicar que o diâmetro do estoma diminui em relação ao tamanho inicial, por isso é aconselhável medir o estoma com frequência antes de colocar o próximo dispositivo.
  • O usuário deve realizar um toque através do estoma a cada duas ou três semanas para manter o bom fluxo do estoma.
  • Avisar sobre alimentos que dão odor característico às fezes.
  • Evite estar acima do peso para reduzir o risco de complicações.
  • O exercício físico é benéfico para a saúde; é preciso saber quais esportes devem ser excluídos da vida o paciente (como os esportes de contato).
  • Quando o paciente tomar banho, pode fazê-lo com ou sem bolsa, mas sempre que fizer banho público deve usar a bolsa.
  • Evitar roupas apertadas.
  • Aborda a questão da sexualidade e recomende que peça ajuda, se necessário.
  • É imprescindível dar as recomendações necessárias para poder continuar uma vida normal, ressaltando a importância de levar sempre consigo os equipamentos necessários para a troca.
  • Explicar de forma muito simples as complicações mais comuns do estoma e da região periestomal.
  • Explicar que diante de qualquer mudança repentina após o exame, solicite uma consulta no seu posto de saúde. É aconselhável que o profissional realize relatório de continuidade dos cuidados com o estoma no momento da alta, que deve incluir:
  • Tipo de estoma e dispositivo recomendados.
  • Referência e código nacional do produto, bem como do laboratório.
  • Referência de acessórios que podem ser úteis para seu cuidado.
  • Alterações a serem feitas.
  • Verificar a forma correta de colocar o dispositivo.
  • Controlar do estado da pele.
  • Recomendações de dieta.
  • Agendar o acompanhamento.
  • Números de telefone de contato para possíveis perguntas ou dúvidas.

    Ruídos e gases

O vazamento de gás pelo estoma é normal, mais frequentemente nas primeiras semanas e meses após a cirurgia. Certos hábitos alimentares podem ajudar a regular sua produção, como mastigar bem os alimentos e evitar bebidas carbonatadas.

Também é aconselhável cautela ao consumir alimentos que causem flatulência.

É fácil para o próprio paciente reconhecer individualmente os alimentos que mais produzem gases em pouco tempo.

O ruído do gás saindo pelo estoma pode ser abafado colocando a mão suavemente sobre o estoma e inclinando-se ligeiramente para a frente.

Cheiro

A seção do intestino que causa o maior odor nas fezes é a seção do cólon transverso. O cheiro de fezes nas ileostomias é geralmente muito diferente.

Dicas práticas para cuidados com estomias

Higiene do estoma: mencionada anteriormente. Sempre que possível, antes de aplicar o adesivo, é aconselhável deixar a pele ao ar por alguns minutos para facilitar a oxigenação.

Em algumas ocasiões, ao realizar a higiene do estoma é possível que apareça algum sangramento. Isso é considerado normal, pois o estoma é altamente vascularizado. Se o sangramento for frequente, deve consultar um especialista.

Mudança de dispositivo

As bolsas serão trocadas ou esvaziadas quando estiverem dois terços cheias. O dispositivo deve ser retirado com cuidado, de cima para baixo, sempre protegendo a pele ao redor do estoma. Nunca deverá ser arrancada.

Para posicionar o dispositivo corretamente, a borda inferior do diâmetro do disco ou bolsa deve ser ajustada ao estoma. A frequência da mudança dependerá do tipo de ostomia. Não é recomendado que as mudanças ocorram após as refeições porque mais eliminações podem aparecer, o que as torna difíceis.

Características dos dispositivos

Existem várias classes de dispositivos:

  • Fechado com filtro;
  • Filtrado aberto;
  • Sistemas uma peça;
  • Sistemas de duas peças.

A escolha do dispositivo dependerá do tipo de ostomia e das características da pele (5).

Conclusão

Eminentemnte, a convivência com uma estomia influencia de modo negativo na qualidade de vida.

As dificuldades incluem problemas sexuais, sentimentos depressivos, gases, constipação, insatisfação com a aparência, troca de roupas, dificuldades ao viajar, sensação de cansaço e preocupação com ruídos da ostomia.

Apesar do grande número de avanços na medicina e cirurgia, as estomias intestinais permanecem na prática clínica. Ser portador de estomia intestinal muda drasticamente a vida de uma pessoa e pode levar a complicações, algumas graves, e à deterioração da qualidade de vida.

O planejamento cuidadoso, bem como a cirurgia meticulosa e os cuidados ideais são cruciais para garantir que os pacientes se adaptem à sua nova ostomia, de modo que possam viver a vida do melhor moo possível.

Assim, concretiza-se a necessidade de profissional especializado em cuidados com a estomia, que possa ensinar com profundidade todos os cuidados necessários. Significaria também uma pessoa de confiança com conhecimentos profissionais muito específicos com quem o paciente e seus cuidadores principais pudessem estabelecer uma relação terapêutica ótima, bem como considera-lo seu pilar básico no processo adaptativo.

Tendo em vista que a abertura de uma estomia intestinal costuma implicar em padecimento de doença crônica, seria necessária uma equipe multiprofissional tanto da Enfermagem quanto de outros profissionais (psicólogos, terapeutas etc.) para dar apoio ao paciente no enfrentamento de sua doença.

Sem dúvida, é possível concluir que é necessário o desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas que consigam reduzir em longo prazo as potenciais complicações e possibilitar qualidade de vida mais agradável aos pacientes, bem como novos dispositivos ou produtos de barreira para evitar as complicações mais comuns.

Bibliografia

1. Peter C. Ambe et al. Intestinal Ostomy Classification, Indications, Ostomy Care and complication Management. Dtsch Arztebl Int. 2018; 115: 182–7
2. Krouse RS et al. A chronic care ostomy self-management program for cancer survivors. Psychooncology. 2016; 25(5): 574–581
3. Bulkley, J. E. et al. Ongoing ostomy self-care challenges of long-term rectal cancer survivors. Supportive care in cancer survivors. 2018:26(11); 3933-3939
4. Sun V. et al. Ostomy telehealth for cancer survivors. Design of the Qual. Life Res. (2016) 25:125–133
5. Vazquez García M.C. et al. Manual de cuidados en ostomías. DAE. 2009;167-195
6. Miralles Basseda R. et al. Instrumentos y escalas de valoración. Tratado de geriatría para residentes. España: SEGG; 2007.

Fonte: Inés, Lallana García. Cuidados de Enfermería para las ostomías intestinales. Disponível na URL <>. Acesso em 22 set. 2021.

Tradução: Rogério Gonzalez Fernandes (pela FEGEST).
Revisão: Izaac Fernandes (Presidente da FEGEST).

 

 

 

 

Estatuto da Federação Gaúcha de Estomizados - FEGEST