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Depressão e o Novo Estomizado

A depressão é uma condição muito difundida e que oferece risco de vida, pois afeta como as pessoas se sentem, pensam e se comportam. Pode aparecer após uma cirurgia recente, como uma estomia. “Estima-se que 1 milhão de pessoas nos Estados Unidos e no Canadá tenham estomas, com esse número aumentando a uma taxa anual de 100.000. Estomias resultam em perda de controle do conteúdo intestinal, tanto fezes quanto gases. Estudos mais antigos demonstraram que pacientes com estoma sofriam diminuição de sua qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS). Especificamente, foi demonstrado que os estomizados têm dificuldade significativa com relacionamentos sexuais, cuidados com os estomas, aparência física e viagens (1).

Enfrentar mudanças no estilo de vida é complicado para um novo estomizado, especialmente nas primeiras semanas após a cirurgia. Como resultado, aparecem medos e inseguranças e os pacientes começam a se sentir insatisfeitos consigo mesmos.

Estados psicológicos negativos após a estomia

Como novos estomizados, os pacientes devem aprender a cuidar do estoma, o que pode causar frustração e ansiedade se não houver orientação adequada. “Os pacientes precisam enfrentar o desafio de adquirir habilidades para viver com o corpo alterado e experimentar uma transição psicossocial. O uso de equipamentos coletores está associado a sentimentos negativos, como medo, angústia, tristeza e desamparo, que podem levar a experiências de autodepreciação, ligadas a sentimentos de mutilação, perda de saúde e autoestima e redução da eficácia pessoal e uma sensação de inutilidade e incapacidade crônica, entre outras emoções. Os pacientes com estoma sofrem mudanças em suas vidas, especialmente relacionadas à sua rede social (trabalho e lazer) e à sexualidade, agravando seus sentimentos de insegurança e medo de rejeição (2).

Ter uma bolsa de estoma causa várias inseguranças relacionadas a vazamentos, odores e gases. Situações angustiantes também ocorrem à noite, pois o paciente não tem certeza se pode ocorrer um acidente de vazamento ou de que lado deve dormir para evitar a pressão na bolsa. Todas essas novas situações podem causar depressão e isolamento.

“Pacientes com estomas enfrentam muitos problemas, tanto físicos quanto psicológicos. Vazamentos causados por falhas nas pastas adesivas ou no sistema de fechamento das bolsas, excesso de volume na bolsa, localização deficiente e dificuldade em manter as bolsas no lugar são alguns dos problemas diários. A ansiedade e o constrangimento pelo estoma podem levar a alteração no estilo de vida, incluindo a capacidade de encontrar trabalho, o desejo de viajar e a autoimagem geral. A maneira como os pacientes se sentem sobre as mudanças em seus corpos pode afetar seu comportamento em relação à família e aos amigos; problemas com a vida sexual também ocorrem. Alguns pacientes têm problemas iniciais com dieta e roupas, mas acredita-se que a maioria se adapte com o tempo. Os inconvenientes e angústias causados por essa necessidade de adaptação e por outras mudanças no estilo de vida e na imagem corporal relacionados aos estomas são pouco documentados” (3).

“Estima-se que 18% a 26% dos pacientes com colostomias apresentem sintomas psicológicos nos primeiros 3 meses de cirurgia. Os sintomas mais comuns são transtorno de ajuste com humor ansioso ou deprimido, transtorno depressivo maior, transtorno do pânico, fobia social e transtorno de ansiedade generalizada. Em uma população de 500 pacientes com câncer, 50% relataram sentir-se deprimidos após a criação da colostomia e 10% consideraram ou tentaram suicídio. A validade dos resultados iniciais do estudo foi questionada devido à falta de métodos e instrumentos padronizados (4)”.

De que modo superar a depressão e o estresse como ostomizado?

Obter orientação e educação profissional em saúde mental é vital para os novos estomizados, que podem ter dificuldades em lidar com esse novo estágio de suas vidas.

“Os mecanismos de enfrentamento incluem mecanismos adaptativos, comportamentais e cognitivos através dos quais as pessoas mudam a maneira como pensam ou se comportam. Algumas pessoas agem de forma agressiva ou evitam situações potencialmente difíceis. Exemplos destes últimos podem incluir evitar sair para jantar ou visitar novos lugares, devido à falta de banheiros (5)”. Ouvir as experiências de outros estomizados e como podem lidar com sua situação individual é crucial para enfrentá-la e alcançar uma rotina diária confortável e um processo de adaptação.

“Podem ocorrer problemas no processo de adaptação após a cirurgia de estomia derivados de seus impactos físicos e mentais negativos. Novas bolsas de estomia desenvolvidas com avanços da tecnologia podem diminuir os problemas de vazamento, odor e volume excessivo que os pacientes estomizados sofreram no passado (6), interferindo nas atividades da vida diária”.

Encontre orientação e aconselhamento sobre a estomia

A ajuda psicológica mostra-se valiosa para quaisquer pacientes estomizados a cada período de poucos meses, pois enfrentam novos desafios e situações diárias que podem afetá-los em diferentes níveis. Atividades como ir à praia, visitar um parque de diversões ou praticar esportes exigem uma preparação diferente após a realização de colostomia, ileostomia ou urostomia; não saber como realizar ou preparar-se para essas atividades com um estoma pode deixar os pacientes deprimidos. Receber ajuda, educação e orientação profissional e experiente ajudará a evitar períodos prolongados de depressão que, em alguns casos, podem se tornar levar a pensamentos suicidas.

“É essencial garantir que os pacientes recebam alta do hospital com um entendimento adequado dos cuidados com o estoma, pois isso tem um efeito positivo na qualidade de vida. Portanto, é essencial que, durante a internação, o (a) enfermeiro (a) especialista em estomas ensine ao estomizado os manejos práticos das bolsas coletoras e produtos adjuvantes. A técnica básica de troca de aparelho incluirá a coleta de todo o equipamento necessário, a remoção suave do aparelho usado, a limpeza e a secagem profundas da pele ao redor do estoma e, em seguida, a aplicação do novo aparelho de estoma, corretamente dimensionado e colocado, com a eliminação dos resíduos. Também é essencial garantir que o estomizado saiba o que é normal e a quem procurar por ajuda se ocorrer um problema.Os cuidados pós-operatórios oferecidos pela equipe multidisciplinar permitem que o ostomizado se sinta apoiado, auxiliando-o no caminho da aceitação do estoma e da nova imagem corporal (7)”.

A educação profissional dos (as) enfermeiros (as) nos locais hospitalares e a ajuda psicológica são vitais para qualquer estomizado. Orientar os pacientes durante e após o processo lhes dá confiança e garante que se sentirão livres e se acostumarão com seu novo estilo de vida.

O impacto positivo da educação pós-operatória

“Como a maioria dos pacientes são estomizados pela primeira vez, muitos não têm a experiência prévia de um estoma. Antes da alta, a prioridade da educação pós-operatória é preparar os pacientes para o autocuidado do estoma. A necessidade de adquirir todas as habilidades práticas para o tratamento do estoma dentro do curto período de hospitalização pode levar ao sofrimento psicológico dos pacientes. As habilidades práticas incluem aprender que a troca da bolsa exige habilidades complexas, como cortar a bolsa para encaixar no estoma, alinhar a bolsa adequadamente com o estoma e aplicá-la para evitar vincos e vazamentos. Além da troca da bolsa, também se esperava que os pacientes aprendessem a limpar seu estoma, identificassem complicações estomacais e entendessem as mudanças no estilo de vida, como adotar uma dieta com pouco resíduo e evitar levantar objetos pesados. A incerteza quanto a sua capacidade para cuidar sozinhos de seu estoma causava receio, insegurança e ansiedade entre esses pacientes. Portanto, a preparação para a alta foi considerada um evento angustiante para muitos pacientes, e o apoio psicológico deve ser fornecido juntamente com a educação pós-operatória (8)”.

Grupos de apoio servem para ouvir outros estomizados que fizeram a cirurgia e usam a bolsa de estomia há muito tempo. Eles podem compartilhar experiências de vida significativas e dicas sobre como lidar com situações diárias semelhantes.
O papel das organizações de saúde no aconselhamento sobre ostomia

“Também é necessário refletir sobre a organização do sistema de saúde para incluir atendimento adequado aos pacientes com estoma, a fim de integrá-los à sociedade como cidadãos e incluir novas demandas por cuidados. Para que isso ocorra, não basta reconhecer apenas as mudanças relacionadas à dimensão física e corporal; é necessário que os profissionais de saúde ofereçam suporte para a inclusão desses pacientes na sociedade. A adaptação após a alta hospitalar pode ser favorecida pelo enfrentamento efetivo de situações embaraçosas, com o entendimento de suas angústias, medos e dúvidas durante o tratamento cirúrgico, desde o preparo físico e psicoemocional até a adaptação às mudanças causadas pelo estoma em suas vidas. O cuidado dos profissionais de saúde deve ir muito além do fornecimento de kits, folhetos e orientações de autocuidado sobre a colostomia e a bolsa coletora. Também é importante expandir as possibilidades de vida social ativa, apesar da necessidade de adaptações. Além disso, espaços para discussão de preconceitos e estigmas sociais podem ser disseminados na sociedade para a implementação do cuidado integral (9)”.

Independentemente de terem sido operados recentemente ou terem sido estomizados há anos, o apoio psicológico e mental de um especialista, família ou grupos de estomizados é sempre benéfico e necessário.

“Os possíveis resultados psicológicos negativos e questões emocionais decorrentes do estoma tornam essencial a prestação de cuidados abrangentes aos pacientes, com uma abordagem interdisciplinar e especializada às necessidades dos pacientes e de suas famílias, com vistas à recuperação física, emocional e social completa da reabilitação. É necessário preparar os pacientes, principalmente durante o período perioperatório, quando experimentam ansiedade e angústia diante do desconhecido - o ‘estoma’. Essa preparação deve incluir educação pré-operatória, demarcação do estoma e orientações sobre o autocuidado para pacientes e familiares, no período pós-operatório (10)”.

Vários mecanismos devem estar disponíveis aos estomizados para encontrar ajuda e aconselhamento quando necessário. “O fornecimento de aconselhamento e apoio contínuos a longo prazo, como consultas regulares com enfermeiras (os) estomaterapeutas e uma linha de apoio 24 horas para ajudar pacientes com estoma a lidar com quaisquer desafios relacionados ao estoma enfrentados durante a vida diária, pode ser útil. Os (as) enfermeiros (as) também poderiam ajudar a criar plataformas sociais, como grupos de apoio aos estomizados e organizar passeios para os pacientes**. Além disso, um programa de visitas domiciliares para tratamento de estomas também pode garantir a continuidade do tratamento e melhorar o ajuste a longo prazo do paciente na comunidade (11)”.

Novos ostomizados podem superar sua depressão apenas se estiverem dispostos a dar o primeiro passo e ser receptivos. “Aprender a conviver com um estoma requer ajuste à imagem corporal alterada e à nova maneira pela qual ao estoma agora elimina os resíduos. Há evidências demonstrando que um bom sistema de apoio pode auxiliar o processo de adaptação, ao passo que complicações, no pré-operatório ou com o estoma, podem resultar em atrasos para o estomizado ajustar-se ao novo estoma (12)”. Procure um especialista se você tiver sentimentos de isolamento, raiva ou desesperança após um procedimento de estomia.

Referências:

(1, 4) Overcoming challenges: life with an ostomy. Popek, S., Grant, M., Gemmill, R., Christopher S. Wendel, M.S., M. Jane Mohler, Ph.D., Susan M. Rawl, Ph.D., Carol M. Baldwin, Ph.D., Clifford Y. Ko, M.D., C. Max Schmidt, M.D., Robert S. Krouse. https://www.americanjournalofsurgery.com/article/S0002-9610(10)00452-6/fulltext

(2, 9, 10) Psychological aspects of patients with intestinal stoma: integrative review. Michelato Silva, N., Antônio dos Santos, M., Rodrigues Rosado, S., Galvão, C.M. & Megumi Sonobe, H. 2017. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692017000100608&lng=en&tlng=en

(3) Quality of Life in Stoma Patients. Karen P. Nugent, M.S., Phyll Daniels, Beverley Stewart, Roy Patankar, Colin D. Johnson, M. Dis Colon Rectum. 1999. https://link.springer.com/article/10.1007/BF02236209

(5, 7, 12) Optimal support systems for patients with stomas – an opinion piece. Jennie Burch. Dove Medical Press Limited. 2014. https://www.dovepress.com/optimal-support-systems-for-patients-with-stomas-ndash-an-opinion-piec-peer-reviewed-fulltext-article-NRR

(6) The Effect of Permanent Ostomy on Body Image, Self-Esteem, Marital Adjustment, and Sexual Functioning. Kilic, E., Taycan, O., Korkut Belli, A. & Özmen, M. Turkish Journal of Psychiatry. 2007. https://es.scribd.com/document/218910003/The-Effect-of-Permanent-Ostomy-on-Body-Image-Self-Esteem-Marital-Adjustment-And-Sexual-Functioning

(8, 11) Stressors Relating to Patient Psychological Health Following Stoma Surgery: An Integrated Literature Review. Giap Marcus, S., Chen, H-C., Chiew Siah, R-J., He, H-G. and Klainin-Yobas, P. Oncology Nursing Forum. 2013. https://pdfs.semanticscholar.org/d25b/fefa8f964795f1571043d3e69430f213f8d7.pdf

* O período perioperatório é o período de tempo do procedimento cirúrgico de um paciente. Geralmente inclui admissão na enfermaria, anestesia, cirurgia e recuperação (nota do tradutor).

** Na realidade brasileira, diversas associações de estomizados encarregam-se de implementar essas iniciativas, fomentando reuniões de grupos de apoio e, mais recentemente, grupos de estomizados no Whatsapp onde profissionais de saúde também participam (nota do tradutor).

Artigo original

Márquez, María Laura. Depression and The New Ostomate. Disponível em <https://www.stomabags.com/blog/depression-and-the-new-ostomate/>. Acesso em 04 jun. 2020.

Tradução e adaptação: Rogério Gonzalez Fernandes (pela Federação Gaúcha de Estomizados - FEGEST)

 

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