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Autoaceitação da Estomia

María Laura Márquez
Clínica Geral

Além de uma nova condição fisiológica, a autopercepção e aceitação do paciente após a cirurgia de estomia podem ser um desafio psicológico. Para muitos estomizados, a falta de orientação para lidar com suas novas circunstâncias pode induzir outros problemas médicos e mentais, como depressão e isolamento social.

“Os pacientes têm que enfrentar o desafio de adquirir habilidades para conviver com o corpo alterado e vivenciar uma transição psicossocial. O uso de equipamentos de coleta está associado a sentimentos negativos, como medo, angústia, tristeza e desamparo, que podem gerar vivências autodepreciativas, vinculadas a sentimentos de mutilação, perda de saúde e autoestima, e redução da autoeficácia e uma sensação de inutilidade e incapacidade crônica, entre outras emoções. O portador de estoma vivencia mudanças em sua vida principalmente relacionadas à rede social (trabalho e lazer) e à sexualidade, agravando seus sentimentos de insegurança e medo de rejeição.

Os possíveis desfechos psicológicos negativos e as questões emocionais decorrentes do estoma tornam imprescindível para a prestação de uma assistência integral ao paciente que haja abordagem interdisciplinar e especializada às necessidades do paciente e de seus familiares, com vistas à plena recuperação física, emocional e social rumo a reabilitação. É necessário preparar os pacientes, principalmente durante o período perioperatório, quando experimentam ansiedade e angústia diante do desconhecido - o ‘estoma’ ” (1).

O efeito de uma estomia transcende o bem-estar físico e pode afetar todos os aspectos da vida, incluindo os seguintes:

• Interações sociais.
• Questões psicológicas.
• Atividades econômicas e crescimento profissional.
• Espiritualidade.
• Independência.
• Vida familiar.

Fatores que podem afetar a autoaceitação de um estomizado

Ter um meio de eliminação diferente afeta emocionalmente os pacientes. No entanto, as circunstâncias individuais determinam como sua autoestima reagirá à cirurgia.

Algumas dessas circunstâncias incluem o seguinte:

Causa da estomia

A condição primária de saúde é importante. Um problema incurável como o câncer pode ser mais devastador do que um problema traumático.

“Após a cirurgia, muitos pacientes com câncer e com estoma passam por mais estresse e uma variedade de problemas físicos que causam preocupação e vergonha. O estoma geralmente fica vermelho, inchado e grande imediatamente após a cirurgia, o que é desagradável para o paciente olhar pela primeira vez. Esse sofrimento emocional, junto com problemas físicos e dor, isolamento de outras pessoas e medo da morte, inevitavelmente reduzirá ainda mais a qualidade de vida em pacientes com estomia.

Nos últimos anos, os esforços para melhorar a qualidade de vida em pacientes com câncer como um dos objetivos importantes do tratamento em oncologia encorajaram os profissionais de saúde a realizar mais pesquisas para identificar diferentes dimensões da qualidade de vida e maneiras eficazes de melhorá-las. Os enfermeiros são membros importantes da equipe de saúde e têm um papel significativo no cuidado de pacientes com câncer, em particular na identificação das necessidades dos pacientes e de suas famílias, limitando as complicações da doença e melhorando a qualidade de vida” (2).

“A adaptação à vida com uma estomia, seja temporária ou permanente, é influenciada por muitos fatores, mas a falta atual de pesquisas suficientes com rigor metodológico adequado limita a compreensão dessas variáveis. [...] Problemas psicológicos pós-operatórios têm sido associados a história psiquiátrica prévia, insatisfação com o preparo pré-operatório, morbidade relacionada ao estoma, perda de controle corporal e falta de autoeficácia no cuidado com estomias. A falta de preparação pré-operatória e, em algumas situações de risco de vida, a falta de consentimento informado, aumentam a sensação de perda de controle do paciente com trauma. Lesões ortopédicas e neurológicas que impedem ou atrasam a realização do autocuidado com estomia podem prejudicar ainda mais o progresso do paciente em relação ao ajuste. O apoio familiar e social pode estar comprometido ou ausente quando a lesão foi causada por envolvimento em comportamento socialmente desviante, como atividade criminosa ou comportamento de risco” (3).

Duração da Estomia

“As colostomias podem ser temporárias ou permanentes. As colostomias temporárias serão revertidas depois de algum tempo, quando a condição do paciente e a razão da colostomia assim permitirem. As colostomias permanentes são indicadas quando a ressecção abdominoperineal é feita, o câncer não pode ser ressecado ou o esfíncter está danificado além do reparável.

Embora seja um procedimento que salva vidas, tanto sua construção quanto sua reversão apresentam morbimortalidade significativa. As complicações podem estar relacionadas à própria colostomia ou à indicação dela. As complicações precoces comuns incluem infecção do sítio cirúrgico, deiscência da ferida, necrose de colostomia e retração. O conhecimento das indicações comuns, mais os tipos e complicações, pode ajudar a melhorar os resultados dos pacientes” (4). As ostomias permanentes têm maior probabilidade de impactar negativamente o paciente do que as temporárias.

Status sócio-econômico

As estomias representam um gasto constante. Pessoas com assistência médica insuficiente ou com meios financeiros insuficientes para fazer frente a esses custos podem sofrer diminuição em sua qualidade de vida. A situação financeira determina se os pacientes atendem às suas necessidades nutricionais. Esse fator influencia a saúde geral, incluindo bem-estar mental e autoaceitação.

Idade

Geralmente, a idade altera a perspectiva de vida. Um jovem estomizado pode ter preocupações adicionais em relação a objetivos de carreira, amor, intimidade e aceitação ou rejeição das pessoas. Uma pessoa idosa pode ter preocupações semelhantes, mas o impacto sobre sua autoimagem e aceitação tende a ser menor.

“A sexualidade é um fenômeno complexo que afeta a imagem corporal, os sentimentos e as relações interpessoais. A sexualidade de uma pessoa está intimamente associada à sua imagem corporal. Muitas pessoas com estomas temem que sua atratividade sexual tenha diminuído. Pessoas com estomas experimentam alguma incerteza sobre sua atratividade sexual e lidam com essa dificuldade de diferentes maneiras. Alguns querem se expor e ver como seu parceiro reage. Se o parceiro não vê o estoma como um problema, podem aceitar mais facilmente o estoma como parte de si mesmas. Alguns escondem a bolsa de estoma ao se despir, mantendo-a fora da vista de seu parceiro, acreditando que seu corpo está "destruído". Alguns têm medo de discutir sexo com o parceiro, preocupados com suas reações. Temem que no final das contas o relacionamento fracasse. A imagem corporal e a sexualidade de uma pessoa são os principais fatores para determinar o efeito de um estoma na qualidade de vida de uma pessoa” (5).

Complicações relacionadas à estomia

As complicações tendem a fazer com que os pacientes desenvolvam baixa autoaceitação devido ao estresse físico e mental adicional, impactando em outros aspectos de suas vidas. “Vários estudos mostraram que a taxa geral de complicações após a cirurgia de estomia é de cerca de 21–70%, incluindo complicações tardias, como dermatite periestomal, hérnia parastomal, prolapso e estenose. Surpreendentemente, algumas complicações permanecem sem tratamento por anos, e um grande grupo de estomizados está "fora da vista" dos profissionais de saúde. Quando surgem complicações, os estomizados esperam muito tempo para entrar em contato com os profissionais de saúde ou simplesmente não os procuram. Não se sabe se ou como esses estomizados lidam com problemas relacionados à estomia e como esses problemas podem afetar sua qualidade de vida (QV)” (6).

Como ajudar pacientes com estomia a aumentar a autoaceitação

A autoaceitação é o primeiro passo para obter sucesso na vida com uma estomia. As chances aumentam dependendo de como o paciente se prepara antes da cirurgia e do suporte pós-operatório.

“Pessoas que vivem com estomias requerem cuidados e cuidados especializados para manter a saúde física e a qualidade de vida (QV). A prestação de cuidados especializados para estomia começa no pré-operatório e continua durante todo o período pós-operatório e de reabilitação e ao longo da vida do paciente com estomia. Dimensionamento contínuo do estoma e do equipamento de estomia, o tratamento de complicações cutâneas periestomais, modificações do equipamento de estomia, acesso a produtos para estomia e assistência financeira, consulta dietética e suporte emocional são apenas algumas das questões de gestão de saúde que requerem gerenciamento contínuo após a criação de um estoma” (7).

Antes da cirurgia

A equipe de saúde deve ajudar o paciente a compreender:

• Por que a estomia é necessária
• O que o procedimento cirúrgico envolve
• As mudanças de aparência que podem ser esperadas em seu abdômen
• A duração esperada da estomia

A equipe de saúde deve avaliar a visão geral do paciente sobre a cirurgia e as perspectivas da estomia possivelmente pelo resto de sua vida, e também ajudá-lo a lidar com essas emoções.

Depois da cirurgia

Um grande número de pacientes pode entrar em depressão e negação pós-operatória.

“As mudanças de vida pelas quais passam os estomizados podem ter consequências psicológicas e sociais. Para essas pessoas, viver com um novo dispositivo em seu corpo pode causar medo, constrangimento e insegurança. Nesse contexto, a família é de fundamental importância, dado seu papel como forma de estrutura de suporte ao estomizado. No entanto, também foi observada vulnerabilidade entre os familiares. Assim, uma equipe multiprofissional de saúde pode desempenhar um papel importante na informação e na melhoria da qualidade de vida dos estomizados, bem como da unidade familiar.

Porém, cada pessoa é única, com uma forma própria de lidar com a situação e se adaptar a essa nova condição de vida que possivelmente envolve sofrimento, dor, incertezas, mitos e medos. O monitoramento dos estomizados é fundamental, pois precisam de suporte para superar as mudanças ocasionadas pela estomia e pela perda parcial de um sistema corporal, visando a manter o controle da evacuação e do vazamento de gases” (8).

Um (a) enfermeiro (a) estomoterapeuta ou outros profissionais médicos qualificados podem ajudar a melhorar a autoaceitação do paciente estomizado com estas ações:

• Visitar o paciente com frequência e tratá-lo com dignidade.
• Incluir apoio emocional enquanto oferecem treinamento sobre cuidados com o estoma.
• Ajudá-los a aceitar que o estoma agora faz parte deles e existe para melhorar suas vidas. Motivar o paciente a olhar e tocar o estoma pode ajudar.
• Incentivar o paciente a falar sobre seus sentimentos positivos e negativos.
• Identificar a taxa de aceitação do paciente e encaminhá-lo a outros profissionais qualificados para uma abordagem de apoio integrado.
• Informar o paciente sobre os acessórios para estomia que podem ajudá-lo a levar uma vida mais ativa e produtiva com segurança.
• Ajudar o paciente a entender sobre medidas nutricionais para lidar com problemas de odor, flatulência e consistência da eliminação estomacal.

Aprendendo a viver com um estoma

“Assim que o ostomizado recebe alta para casa, o processo real de aprender a viver com o estoma começa. Todos os conselhos são gerais e podem precisar ser adaptados especificamente para o estomizado individual. Em caso de dúvida, o (a) enfermeiro (a) especialista em estoma pode ser contatado (a) para fornecer mais conselhos a um (a) enfermeiro (a) generalista ou ao próprio ostomizado. Alguns estomizados têm problemas para se ajustar à convivência com o estoma e possivelmente o (a) enfermeiro (a) generalista será a pessoa contatada ou que perceberá o problema. É ideal ao visitar e avaliar um estomizado na comunidade tentar e garantir que cuidado holístico seja fornecido. No entanto, isso nem sempre é facilmente alcançado quando há recursos limitados e a falta de familiaridade com os cuidados com o estoma pode resultar em ações mais cautelosas por parte do (a) enfermeiro (a)” (9).

Atividades diárias com estomias

“Ao retornar à rotina de atividades diárias normais, o paciente deve esperar pelo menos seis a oito semanas antes de retomar suas atividades anteriores. Levantar muito peso deve ser evitado e a retomada das atividades esportivas dependerá da condição física da pessoa naquele momento.

Uma vez que o estomizado tenha recuperado totalmente suas forças, ele ou ela pode desfrutar de uma ampla gama de atividades físicas, como fazia antes de ter a estomia. A coisa mais importante que o estomizado deve lembrar é que deve cuidas da estomia de maneira adequada.

As atividades esportivas e de lazer podem ser praticadas como antes. Esqui, cavalgadas, golfe e muitas outras atividades podem ser praticadas, e até mesmo a natação não está fora de questão. As atividades que devem ser evitadas são coisas como levantamento de peso e esportes de contato, pois podem resultar em danos ao próprio estoma. O paciente que tem que levantar pesos pesados para seu trabalho deve obter autorização de seu médico antes de fazê-lo.

O mesmo estilo de roupa pode ser usado como antes da colocação da estomia; cintos podem ser usados, meias-calças podem ser usadas e até cintas sem o espartilho podem ser usadas. As roupas não devem ser muito apertadas, no entanto, pois podem esfregar no estoma e fazer com que ele sangre.

Tomar banho para o estomizado não é tão diícil quanto se poderia imaginar. Ao tomar banho ou ducha, a pessoa pode deixar a bolsa ou retirá-la. O banho por si só não fará a bolsa sair. A água não prejudica o estoma e geralmente tudo o que é necessário é um curativo para cobrir o local, caso a pessoa opte por não se banhar com a bolsa. Se o ostomizado decidir tomar banho sem bolsa, deve escolher um momento em que a estomia não esteja tão ativa.

O paciente estomizado deve poder retornar ao trabalho assim que o período de recuperação terminar, geralmente em cerca de seis a oito semanas. A única preocupação, como afirmado antes, é que a pessoa não deve fazer nenhum trabalho pesado. Se a pessoa tiver alguma dúvida sobre o retorno ao trabalho, deve consultar seu médico ou terapeuta estomacal enteral” (10).

Aumentar a autoaceitação e observar todas as medidas anteriores devem ajudar o paciente a ter uma vida normal. Os especialistas incentivam os pacientes a participar ativamente do manejo de rotina do estoma, como colocar e esvaziar a bolsa, para ver o processo como parte natural de sua vida. Procure ajuda profissional adequada se você ou um paciente com estomia que você conheça tiver problemas de autoaceitação ou autoestima.

Referências:

(1) Silva, N. M., Santos, M. A. D., Rosado, S. R., Galvão, C. M., & Sonobe, H. M. (2017). Psychological aspects of patients with intestinal stoma: integrative review. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rlae/v25/0104-1169-rlae-25-e2950.pdf

(2) Dabirian, A., Yaghmaei, F., Rassouli, M., & Tafreshi, M. Z. (2011). Quality of life in ostomy patients: a qualitative study. Patient preference and adherence, 5, 1. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3034300/

(3) Steele, S. E. (2006). When trauma means a stoma. Journal of Wound Ostomy & Continence Nursing, 33(5), 491-500. Disponível em https://nursing.ceconnection.com/ovidfiles/00152192-200609000-00006.pdf

(4) Engida, A., Ayelign, T., Mahteme, B., Aida, T., & Abreham, B. (2016). Types and indications of colostomy and determinants of outcomes of patients after surgery. Ethiopian journal of health sciences, 26(2), 117-122. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/301277428_Types_and_Indications_of_Colostomy_and_Determinants_of_Outcomes_of_Patients_After_Surgery

(5) Shaffy, S., Kaur, S., Das, K., & Gupta, R. (2012). Physical, nutritional and sexual problems experienced by the patients with colostomy/ileostomy: a qualitative study. Nursing and Midwifery Research Journal, 8(3), 210-22. Disponível em http://medind.nic.in/nad/t12/i3/nadt12i3p210.pdf

(6) Vonk-Klaassen, S. M., de Vocht, H. M., den Ouden, M. E., Eddes, E. H., & Schuurmans, M. J. (2016). Ostomy-related problems and their impact on quality of life of colorectal cancer ostomates: a systematic review. Quality of Life Research, 25(1), 125-133. Disponível em https://link.springer.com/article/10.1007/s11136-015-1050-3

(7) Recalla, S., English, K., Nazarali, R., Mayo, S., Miller, D., & Gray, M. (2013). Ostomy care and management: a systematic review. Journal of Wound Ostomy & Continence Nursing, 40(5), 489-500. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/251568692_Ostomy_Care_and_Management_A_Systematic_Review

(8) Cetolin, S. F., Beltrame, V., Cetolin, S. K., & Presta, A. A. (2013). Social and family dynamic with patients with definitive intestinal ostomy. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-67202013000300003&script=sci_arttext&tlng=en

(9) Burch, J. (2011). Resuming a normal life: holistic care of the person with an ostomy. British journal of community nursing, 16(8), 366-373. Disponível em https://pdfs.semanticscholar.org/20fe/fe3fae8a1edf50a6defe7b668b09e4aa556b.pdf

(10) Wittenauer, J. (2007). Caring for the ostomy Patient. National Center of Continuing Education, 20, 70-77. Disponível em https://www.nursece.com/pdfs/218_ostomy.pdf

Fonte: https://www.stomabags.com/blog/ostomy-self-acceptance/

Tradução e adaptação: Rogério Gonzalez Fernandes (pela Federação Gaúcha de Estomizados - FEGEST)

 

 

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